NO ROAD MOVIE____________________NÃO COMEÇA NEM TERMINA____________________TURN RIGHT E À ESQUERDA____________________ZOOM IN, OUT E AROUND
SONO
As long as the film continues,
I love you, I love you.
1. EXT. ESTRADA / NOITE
Seguimos pela estrada iluminada pelos faróis dianteiros, do carro em movimento.
A janela aberta produz um ruído constante de vento no interior do carro, pontuado pelo atrito dos pneus no asfalto dos outros carros que cruzam.
No rádio toca uma música triste. Duas mãos seguram o volante. Um cigarro entre os dedos da mão esquerda.
Vemos os olhos de quem dirige. Vemos o câmbio do carro, o freio de mão, a fivela do cinto de segurança balançando, o painel de som. Vemos as mãos das pessoas que estão no carro, pescoços, braços, pernas, que brilham com a luz do farol dos carros que viajam na direção oposta.
Passamos por um carro preto parado no acostamento.
29/08/2019
Eu sou o fantasma que persegue.
16/09/2019
A notícia veio enquanto eu dirigia de volta para casa. Era segunda à noite, Aiko estava no carro comigo. Marina me ligou para dizer que Lena havia morrido na cama do apartamento alugado. Ela faz aniversário um mês depois de mim. Chegou no Brasil uma semana e meia depois.
Da multidão que velava seu corpo, eu só reconheci alguns amigos e as suas mães. Demorei para me aproximar de seu corpo, e quando te vi, segurando a mão de Marina, não te reconheci. Era impossível que fosse você; sua pele não era mais rosada e nem tinha as pipocas nas bochechas. Minha mãe ficou olhando de longe, sozinha.
Na cerimônia a Monja repetia seu nome, a data do seu nascimento e a data da sua morte, como se te informasse a cada repetição, para que você entendesse. O silêncio virou lamento quando quatro homens entraram no salão e fechavam seu caixão. Uma salva de palmas acompanhou seu corpo até a saída.
13/10/2019
A história de uma viagem que acaba
e tudo se repete.
ZANE
Imagine uma estrada, você está nela. Como ela é?
ALY
A estrada é de asfalto, lisa e infinita. Tem mato em volta e o céu está aberto.
ZANE
Como você se locomove? Está só?
ALY
Estou só e dirijo um carro, do lado certo da pista.
ZANE
No meio da viagem você vê um gnomo
no acostamento. O que você faz?
ALY
Eu paro para o gnomo, ele entra no carro e se senta no banco do passageiro.
ZANE
Seguindo viagem você para perto
de uma casa. Como ela é?
ALY
A casa que eu vejo é inteira de madeira escurecida e brilhante.
ZANE
Você entra na casa.
Como ela é por dentro?
ALY
Conservada, mas está vazia.
ZANE
Dentro da casa você vê um vaso.
Como é esse vaso?
ALY
O vaso é de um vidro azulado e grosso, grande, e dentro dele há rosas grandes e coloridas, artificiais.
ZANE
Saindo pela porta dos fundos da casa
você vê uma cachoeira. Você entra?
ALY
Saindo pela porta dos fundos eu vejo
a cachoeira, caminho até ela e sento numa pedra.
ZANE
O gnomo está com você? Se ele estiver,
o que ele faz?
ALY
O gnomo se atira na água enquanto eu molho só os pés.
ZANE
Perto da cachoeira você vê um muro.
Te parece estranho? Você quer ir até lá?
ALY
Saindo da cachoeira vejo o muro, acho estranho e não desejo ver o que há por detrás.
ZANE
Nesse momento alguém aparece
na minha vida, e as características me lembram de você.
ZANE
Acho que sonhei contigo. Não consigo ter certeza, mas tem uma imagem de algum lugar que íamos. Era uma praia com muita mata e estava nublado, talvez chovendo. Parecia um lugar que nunca havíamos ido. Você tinha o cabelo um pouco maior do que está agora.
31/10/2019
O raio verde de Rohmer.
São sempre mundos diferentes, o meu e o seu. Todo o resto parece não acompanhar.
20/11/2019
Éramos em três: eu, Zane e uma mulher. Vestíamos roupas parecidas e estávamos dentro de uma casa vazia no meio do mato. Íamos morar nessa casa, nós três. Na medida em que andávamos pela casa, comecei a sentir ainda no sonho, que, quando eu acordasse Zane me deixaria. Não queria acordar, queria permanecer no sonho até onde pudesse
segurar. Quando acordei vi Zane ainda dormindo do meu lado.
SOPHIE
I dreamed of marrying him.
He dreamed of making movies.
17/12/2019
Aiko, cheguei em casa molhada da chuva forte que caiu hoje, tomei um banho quente e deitei na cama. Era início de noite e o quarto estava azul. Pensei em escrever um filme que seria uma road trip na qual eu vou atrás do meu amor que foi embora. Me lembro de que meu amor não me quer perto, mas invento de ir. Passo a passo, já sei como chegar lá, mas não posso ir sozinha. Invento um filme, assim alguém teria de filmar comigo esse trajeto. Como é um filme vou fingir que no fim ele volta comigo ou me pede pra ficar.
Peguei no sono e acordei tonta. Não tenho vontade de comer e sinto cada pedaço do meu corpo pesar e tornar meu caminhar mais incômodo. Acho que estou com problema de circulação, no dia em que ele foi embora, eu quase desmaiei de dor na rua, tentando correr atrás de alguma coisa que fosse nossa. Foi tudo embora com o meu sangue. Não tem mais o cheiro nas roupas, nas mãos. O que tivemos até aqui acabou antes dessa despedida.
Te disse hoje que estava me sentindo perdida. Não sei o que fazer com a noite, nem com o dia de amanhã. Meu corpo está aqui, mas a minha cabeça está indo e voltando de Fortaleza pra São Paulo. Tentei escrever alguma coisa para o trabalho, mas ao invés disso planejei uma viagem. Te escrevo para dizer que vou embora. Vem fazer esse filme comigo?
Aly
7/12/2019
Veja bem meu bem. É como se o que fosse antigo fosse cada vez mais invisível e para olhar fosse preciso se dispor a virar-se naquilo um pouco mais a cada dia. Como se a gente nunca fosse entender o que já veio antes de nós, mas nos deparamos tão próximas a tantas coisas como essas. Mas não há nem mais tempo. Perderam o tempo. E em todo o tempo que temos, só olhamos para tudo isso. Num dia azul de verão, sinto o vento que traz o cheiro de mar que eu sinto quando estamos juntas. Que as coisas que não têm fim nos abram para o desconhecido. Veja bem amor. É como se estivéssemos replicando todos os fatos sem saber, sem perceber. Mas querendo chegar, só chegar em outro lugar bem diferente daquele, não somos as mesmas.
Aquelas estrelas das canções vão lhe ajudar quando os amores terminarem no escuro, porque eu sei que todos eles você vai querer tentar reviver. Porque é tanto assim como eu penso que eu sou. Mas é só porque, como tu, quero seu bem e cuidarei de ti atééééééé - porque me ensina a diferenciar os fragmentos de um conjunto que parecia tão uniforme, mas foi tudo criado por mim, na minha cabeça, e por parecer tão perfeito, não poderia ser outra coisa senão aquilo. Aprendi a caminhar sozinha para poder te olhar de longe, mesmo que sempre encantada.
Sei que é dolorido, tudo, enquanto estivermos aqui. Mas te desejo todas as coisas que não têm fim, que elas te abram para os caminhos que não conhece ainda, para as profundezas que de tão lindas podemos nos perder. Mas se é que é que se perdendo que se acha, eu desejo encontrar você em todas as vidas, que não minhas mais, me colocarem para viver.
Aiko
ZANE
Amanheci dançando só.
ALY
Terrible script — it's not working
ZHAO
Well, this is not what I saw in the movies
ALY
What did you have for dinner?
ZHAO
What do you want me to say I had for dinner?
01/01/2020
Passei a noite de ano novo esperando notícias. Moa me beijou quando deu meia noite.
13/01/2020
28/01/2020
O filme precisa caber no meu carro.
11/02/2020
Um texto sem solução, uma imaginação sem projeção.
ZANE
Cheguei.
7/04/2020
Ir para o México. Aprender a morrer.
07/04/2020
Nós não envelheceremos juntas.
Todos os dias tenho acordado e pensado que não morri enquanto dormia. Lembro dela, imagino que tomou banho, vestiu um pijama, sentou na beira da cama para colocar o despertador do dia seguinte, se deitou e fechou os olhos. Pela manhã as mensagens dos amigos chegaram no celular, o despertador tocou e tocou até desligar sozinho. O dia no trabalho começou, os funcionários chegaram ligando seus computadores, enchendo suas canecas de café. Mais mensagens, agora preocupadas, ligações, silêncio no apartamento e o som do celular. Seus olhos ainda fechados desde a noite anterior. Alguém avisa alguém e outro alguém arromba a porta do apartamento, abre a porta do quarto e o corpo frio está deitado na cama.
Quando tivermos 60 você ainda terá 24. Noite sim outra não, nos encontramos em alguma sala de estar, hotel ou estrada. No nosso último encontro eu chorei abrindo um encarte de DVD, olhei para ela e ela me disse “Nem uma lágrima. Aqui eu posso estar em todos os lugares”.
Todo dia eu ainda abro os olhos. Eu vejo coisas que me lembram de você, e converso com você e pergunto o que acha das coisas que estamos vendo. Em algum momento dessa história você virou um espelho torto no qual eu me enxerguei. Eu gostava de me olhar nesse espelho porque via uma imagem que nunca tinha visto, e do outro lado tinha você. Sem o espelho ficou só esse corpo torto, que não sabe mais o que é.
Estirada no chão do quarto e meus pensamentos a 200km/h, senti minha cabeça descolada rolando em círculos. Desde a sua morte eu não consegui fazer as duas coisas se juntarem. Fiquei pensando se eu devia acelerar e bater contra um muro para tudo se tornar uma massa só, ou dirigir devagar e infinitamente até tudo se decompor.
Há seis meses eu comi algo com tanta vontade, coloquei os pedaços inteiros na boca e sem mastigar engoli tudo como se fosse a última coisa viva na Terra. Não deu para seguir viagem. Fiquei parada na estrada e ele não veio me buscar, então fui caminhannnnnnnnnnnnnnndo e venho morrendo a cada dia. Não há outro carro para esse filme.
Tudo começou há dez anos atrás. Não. Há 24 anos atrás, ou há milhões de anos atrás. Alguma coisa dentro desse corpo me diz que eu já nasci com essa história, e que alguns pedaços eu nunca vou entender. Será que consigo equiparar a velocidade do meu pensamento à velocidade do meu corpo? Quando olhei para as minhas pernas não as enxerguei como minhas. Como posso ir dormir mulher e acordar homem e vice e versa, o que é que me acontece na duração de um dia para nascer querendo tudo e morrer querendo nada?
Se eu dirigir a 200km/h meu corpo atinge a velocidade dos meus pensamentos, consigo juntar as partes soltas e me tornar uma coisa só? Pepi me perguntou porque eu sigo viva, e respondi que eu ainda gostaria de provar o sal de todos os mares. Tenho que digerir e tudo demora. Não sei se estou pronta para me despedir. Pouco a pouco cada pedaço seu vai embora, não sou capaz de te guardar no meu corpo - só alguns gestos e palavras que escapam as vezes, e sinto sua presença. Tenho medo que você desapareça se eu deixar de pensar em você.
Zane me disse que você queria partir, mas eu não acredito. Zane me disse que iria partir, mas eu não acredito. Girar e girar em torno do mesmo eixo, sem nunca parar. A história continua mesmo sendo sobre você. Eu devia rever MOUTON, no filme a personagem principal some e o filme segue.
29/08/2020
Viajaríamos para ver o eclipse, mas em dezembro você vai embora e eu não sei se volta dessa vez.
12/02/20
Cena de carro na estrada / Cena de abastecer o tanque de gasolina / Cena de conversar com um estranho / Cena de beijo / Cena de sexo / Elementos estáticos e centrípetos / Acelerações abruptas / Longas pausas / Sucessão de eventos como episódios / Digressões enunciativas que freiam o fluxo narrativo / O carro se afasta da câmera / No rádio toca uma música triste / As montanhas percorrem a janela do carro / A motorista está só.
10/04/2020
No Road Movie, filme sem estrada, ou filme sem filme. A busca pelo que havia antes, ou a tentativa sempre falha de realizar um sonho. A arte é uma forma de falar com os mortos?
11/04/2020
Das qualidades de andar em círculos.
13/04/2020
Um sonho antigo que ainda sonho sem saber o porquê.
27/04/2019
Eu estou andando na rua e na minha frente eu vejo alguém que me lembra a você. Finjo, com essa pessoa estranha, que falo contigo.
MAN TRAVELLING TO SAINT-JEAN-DE-LUZ
Are you crying?
11/05/2020
Primeiro era tentar reter, conservar as coisas do jeito que eram antes – ou o mais próximo do que era antes. Na noite que antecedeu meu aniversário, sonhei com Lena. Ela conversava
comigo sentada à mesa e seu corpo se desfazia.
24/05/2020
1. Colher os restos
2. Construir uma cenografia
3. Criar uma coreografia
04/06/2020
Sonhei que muitas mulheres que nadavam em um lago. O lago era tão grande que havia submergido uma cidade inteira. Acordei com meu dente canino quebrado.
06/06/2020
Adeus de novo, mas sempre diferente.
05/06/2020
Ainda sem notícias suas.
FISCHLI & WEISS
Is my soul the ghost that drives my car around at night?
17/06/2020
Texto de despedida.
Corria de um lado para outro, um pé atrás do outro, fazendo voar o que estivesse solto no chão, nas paredes. De tênis e meia na altura da canela, passou por mim quatro, cinco vezes, acelerando sobre duas pernas magras e velozes, procurando alguma coisa que perdeu, ou guardou para não perder.
“São iguais às do meu pai”, talvez exatamente por isso sejam a parte do corpo de que mais gosta, as pernas. Eu fingia atenção, apertando meus olhos diante da tela do computador quando ele passava, sentindo soprar doce no meu rosto, o ar deslocado pelo seu corpo. Vestia uma bermuda preta de tactel que agarrava seu quadril e se pendurava a dois palmos acima do joelho, de onde brotavam pelos que escorriam até o tornozelo. Não me perguntou se eu havia visto tal ou tal coisa, só continuou voando de um cômodo ao outro feito um tornado, tentando puxar da memória o buraco que enfiou seu misterioso objeto, e aspirando meus pedaços dispersos para dentro de si com violenta indiferença.
Na sexta vez que cruzou a sala, voei atrás dele tentando dar uma utilidade ao meu corpo murcho na cadeira de escritório. Foi um estrondo! Duas testas, quatro joelhos, ombros, pés, canelas, bocas, narizes, cotovelos, punhos, peitos, coxas, pernas, bundas, bucetas, dedos, línguas, olhos, cabelos, cigarros, moedas. O furacão que me consumia em pedaços, me expeliu em estilhaços pelos ares.
Antes que eu fosse capaz de levantar, suas pernas já estavam estendidas diante de mim. Pensei que a dor de cabeça que despontou da colisão talvez fosse a única coisa que partilhávamos agora. Segurei suas mãos, levantei tonta e senti seu cheiro quando me pus de pé.
Foi buscar um copo de água na cozinha, me deixando sozinha para que eu avistasse no piso um cigarro triste e amassado. O observei passar pela última vez, se aproximando para então se despedir. Um beijo no pescoço e um no rosto, deu as costas e nada mais. Bateu a porta fazendo vento, toda poeira que subiu aterrissou no mesmo lugar.
12/06/2020
Um road movie pode continuar infinitamente.
20/06/2020
Vejo-me como uma cineasta fracassada, mas ainda assim, alguém com uma fantasia intensa, um desejo obsessivo de fazer um filme
23/06/2020
Fazia meses que nãos falávamos, mas antes de
ir embora, Zane se ofereceu para tirar um
jogo de tarot que pudesse me guiar na volta
para casa. Uma pergunta saiu pela boca, outra
ficou na garganta, não sei se alguma foi
respondida. Nessa viagem, eu não vou mais
atrás do meu amor que foi embora, mas o meu
amor me lembra para onde eu quero ir.
Á noite sonhei com centauros. Festejavam numa floresta de mata fechada. Um deles me chamou por detrás de uma árvore e disse: “Para cada coisa dita, existem outras tantas ocultas”.
24/06/2019
Ainda sempre nada da tua mão.
EXT. BEIRA DA ESTRADA – NOITE.
ALY para o carro no acostamento. ZANE sai pela porta do passageiro, seguido de Aly, que sai do carro com uma pequena mochila pendurada no ombro.
Aly e Zane sobem o morro que contorna a estrada, e lá do alto avistam um lago.
Eles descem o morro direção ao lago. Na medida em que chegam perto, o céu fica mais escuro, e quando chegam à beira, só veem a água porque reflete a lua e as estrelas.
Aly e Zane entram no lago, mergulham contando histórias de amor e de terror.
26/08/2020
Eileen Myles
TRANSITIONS
for Rocco
Sometimes
I`m driving
and I pressed
the button
to see who
called &
suddely I'm
taking pictures.
Big dark
ones. He says
it's not about
where you sit
to make a
film
but I wasn't
taking a
picture
I was driving
it's black &
there's all
these lights
I'm strong
it's night
& I've
driven very
far
I keep hearing
the music
of the weekend
he says
it's not about
whether she & I
resume
it's how it goes
on
with me.
In my car
so long ago
I loved someone
who read me a poem
on the phone
about the car
of the day
you mean the
one I'm driving
and the fact that
she left it
on the phone
and that was new
she said I was overreacting
and that was too much
and we sent our messages
in light
and ack she hated
trees
I thought she's so
young cause
I like nature
now and her trunk
wrapped around
me one day
he licks my
arm my boy
& driving home I thought
if he dies
I will see his paw
in the sky
I am seeing it now
and she's always
home
going hwuh
and she said
I love our little
meeting I said
little
don't denigrate
my need to support
my need to say
that you can
I'm glad I'm
home it's wide
out there
we spoke about scaf-
folding
him fitting the
frame to the
eye
she's grown
I wanted to say
we laughed about
tang
and later on the
toilet
thought
about tango
and joan
L Tango Larkin
what's not technology
what's not seeing
an arm to say
I hold the
line I hold
the day
I watch the snowflake
melting
19/07/2020
Um dia antes de partir me despedi de minha mãe como se eu não fosse voltar. Antes de sair, quando ainda era escuro e Vini estava quase chegando para me buscar, olhei para o apartamento pensando que se eu não voltasse, seria mais ou menos assim que o encontrariam. Agora volto para casa trazendo as paisagens e a estrada que liga a minha casa à de Aiko.
LIU
Eu queria começar um filme exatamente assim
ZANE
O road movie podia ser um filme pornô.
ALY
Todo filme é pornô.
ZANE
Você tinha que começar indo até Fortaleza. Foi onde tudo começou.
ALY
Para te buscar.
ZANE
Para ir só.
(Silêncio)
ZANE
É preciso uma road trip para fazer um road movie?
ALY
É preciso um filme para fazer cinema?
(corta para)
31/10/2020
Estou sempre a terminar sozinho as viagens que pensamos juntos.
26/11/2020
Três, dos cinco meses em que esteve aqui, passamos em silêncio.
(intervalo)
ALY
Eu acho que só preciso encontrar as palavras para contar como você chegou na minha vida.
21/03/2021
O vazio não pede pra ser preenchido.
O carro corta no vácuo pensando ser muito importante. Não importa. O que é conversado, as músicas escolhidas, o silêncio e uma mão que segura outra, isso sim. Posso percorrer 2.351 km e não chegar a lugar nenhum. Mas percorro algumas quadras até a sua casa, ou alguns passos até o seu quarto, e nisso alguma coisa se move e pode ser a estrada, a montanha, os insetos, as estrelas.
MATILDE
I talk to you for five hours
and then I can't sleep.
Realização ........................................................................
Colaboração no roteiro ........................................................
Imagens filmadas ...............................................................
Desenho de Som ...............................................................
Agradecimentos ................................................................
Obras e citações visuais .........................................................
em ordem de aparição
Obras e citações sonoras .......................................................
Manoela Cezar
Camila Svenson
Carolina Wan
Cris Lyra
Jake Walters
Juno B.
Lara Teixeira
Pepi Lemes
Vinicius Maffei
Manoela Cezar
Vinicius Maffei
Lara Teixeira
Andrea Tavares
Annx Mascarenhas
Bruno Amorim
Diego Mauro
Fernanda Galvão
Galciani Neves
Helena Obersteiner
José Manoel Amorim
Julia Cavazzini
Juliana Sodré
Juno B.
Lara Teixeira
Lívia Aquino
Luana Fortes
Lucas Santana
Pedro França
Pedro Geraldo
Paulo Miyada
Roberto Bertô
Suely Amorim
Trecho de "Os Ossos"
filme de Manoela Cezar
Brasil, 2016
"As long as the film continues, I love you, I love you"
do filme Love (Ai), de Sion Sono
Japão, 1976
Bizkit_the_Sleep_Walking_Dog[2]
https://archive.org/details/BizkitTheSleepWalkingDog2
IVeBeenUp24HrsStraightNotTheLongestIVeBeenUpButLongEnoughIProbablyWonTBeAble2Sl
https://archive.org/details/IVeBeenUp24HrsStraightNotTheLongestIVeBeenUpButLongEnoughIProbablyWonTBeAble2Sl
Upload por Kenneth Udut
EyeJustWantsToShutOutTheLightSleepDarkTiredKennethudutHasBeautifulGirlyLashesT
https://archive.org/details/EyeJustWantsToShutOutTheLightSleepDarkTiredKennethudutHasBeautifulGirlyLashesT
Upload por Kenneth Udut
Green Ray (Rayon Vert)
de Eric Rohmer
França, 1986
Pacto
de Juno B.
São Paulo, s/d
Double Blind (No sex last night)
de Sophie Calle e Greg Shepard
França-Estados Unidos, 1996
Imagem do trabalho "Ainda sem notícias suas..."
de Manoela Cezar
São Paulo, 2020
Imagem do carro atolado no barro
https://www.newsrondonia.com.br/noticia/43225-chuvas-mostram-a-presenca-do-governo-em-estradas-federais-no-norte-do-brasil
"Is my soul the ghost that drives my car around at night?"
do trabalho Questions, 2000–03
Peter Fischli & David Weiss
Estados Unidos, 2016
Cross country in the silver bullet
https://archive.org/details/Cross_country_in_the_silver_bullet
Autor OSOgood Productions
"Vejo-me como uma cineasta fracassada, mas ainda assim, alguém
com uma fantasia intensa, um desejo obsessivo de fazer um filme"
Adaptação de uma frase de Dominique Gonzalez-Foerster em entrevista com Ana Pato
em . Literatura expandida: Arquivo e citação na obra de Dominique Gonzalez-Foerster
São Paulo, 2020
Garopaba #2
por Manoela Cezar
Brasil, 2020
Transitions
poema de Eileen Miles
em Snowflake
Estados Unidos, 2012
Garopaba #7
por Manoela Cezar
Brasil, 2020
Garopaba #4
por Manoela Cezar
Brasil, 2020
Roteiro para um filme sem estrada #6
por Manoela Cezar
a partir de fotografia de Camila Svenson
Brasil, 2020
"I'll have what she's having"
de Matilde Campilho
Portugal, 2014
Heavy sandstorm hits Tarim oilfield in Xinjiang China
https://archive.org/details/HeavySandstormHitsTarimOilfieldInXinjiangChina
Gnossienne No. 1
Erik Satie
Acontecimentos
Marina Lima
You make me feel
Aretha Franklin
Mel da sua boca
Copacabana Beat
"I'll have what she's having"
de Matilde Campilho
lido por Lara Teixeira e Manoela Cezar
Eye Road
Aiko John
An english year by your side
Aiko John e Vinícius Maffei
Créditos
Feito de imagens que desaparecem e reaparecem ao longo da vida, No Road Movie existe há mais tempo do que eu posso contar. Andando sem rumo por uma estrada, fui encontrando pedaços meus e dos outros que até então nunca existiram. Se eu ando sem rumo é para que não haja fim e nem finalidade, para que a viagem seja mais longa. É o que tento explicar a meus pais, que o cinema nunca foi sobre os filmes.
Pode ser que eu tenha dormido no volante por estar muito cansada, e acordado com o carro dentro de um lago. Só que era tão bonito, e a água era tão quente e me engolia, que cheguei ao fundo e fiquei. Tateando, o chão se movia, e se me movimentava rápido demais, a areia subia. Não enxergava um metro à minha frente, mas alguém cantava para mim.
A Terra deu uma volta e meia em torno do sol e nem vi. Nadei no escuro pensando segurar a mão de alguém, construindo um universo todo que só eu podia ver. Do lado de fora o vírus se espalhava.
Traduzi os dias em palavras quando já não havia mais sentido em criar imagens. Pelas palavras, pequenas notas, textos, me comunicava e assim o ar saía de pouquinho, de forma contínua. É um grande esforço criar uma imagem, uma grande responsabilidade.
Pouco a pouco uma história pôde ser contada. It’s not whether she and I resume, it’s how it goes on with me. “Foi o que você me disse, lembra? ”
- Não foi tão bonito assim quando eu disse.
A mesma coisa pode ser dita de tantos jeitos, as mesmas coisas podem ter tantas formas, e pode ser que a depender de como são postas juntas, contem histórias diferentes. Cada coisa que eu vi na estrada eu guardei, não à toa afundamos. Não há outro carro para esse filme.
28/11/2020
No deserto, é onde acaba. Sobra o carro, imóvel, a espera. Meu corpo se desmancha em areia e vento. Foi assim que sonhei; quando acordei estava morta. Sempre estarei ligada a você, por uma estrada imensa que me levou ao céu e ao inferno.
ZANE
Eu queria ser o carro do seu road movie
15/12/2019
A 2.351 km de distância.
ALY
No, I'm not crying.
9/07/2020
Dirigimos 11 horas de São Paulo à Garopaba, Vini e Eu. Conversamos durante todo o caminho.
24/06/2020
1. Travesseiro
2. Coberta
3. Toalha
4. Capa de chuva
5. Tênis de caminhar
6. Biquíni
7. Roupas de frio
8. Roupas normais
9. Pijama
10. Calcinha
11. Meias
12. Óculos
13. Chapéu
14. Câmera de vídeo
15. Câmera de foto
16. Lanterna de cabeça
17. Barraca
18. Saco de dormir
19. Carregadores
20. Cogumelos
21. Escova de dentes
10/07/2020
Encontro de almas.
14/07/2020
Dói reler.
16/07/2020
Estrada à noite.
Voltamos para casa, já era hora de partir. No caminho pensei em recapitular durante 6 semanas para tentar entender alguma coisa. Agora resta limpar a casa, os cabelos e dar água aos gatos. Me sinto bem aqui, me sinto bem longe daqui. Poderia me acostumar a tudo. Elaborando um corpo-casa capaz de viajar, pedi proteção nas estradas quando encontrei o mar. Na volta, não senti tanto medo, planejo a próxima viagem e cada dia penso menos neles, ainda que me visitem em sonhos.
17/08/2020
No road moves
28/07/2020
Gostaria de dizer que o filme não termina, nem começa. Ele dura enquanto escorre lento pelo vidro do carro.
7/08/2020
Um road movie pode ser o projeto de uma vida inteira. Dirigir pelas estradas e encontrar as almas gêmeas. Sei que fomos, em outros lugares que não o amor, e por isso sinto sua falta. Carol me conta que seu trabalho a fez perseguir o amor que acabou encontrando. Quem sabe no futuro? Sei que me acostumei a chamar os gatos de "coisinhas", a tocar a língua nos dentes quando digo "sim", a gesticular com três dedos quando tento explicar alguma coisa. Engolindo gestos, transformando em meus. Estão todos presentes, mesmo quando não.
20/08/2020
Cinema de estrada sem filme.
JAKE
Each one of us could go to
one of her favorite places
in town.
JAKE
Polly! Polly!
AIKO
Guys, Polly is missing! We
should take the car down
the hill and split. Maybe
one of us can find her.
AIKO
I’ll stay at the land and
sing so she can hear me.
VINI
Of course! I’ll take the
car and head to the lake.
ALY
I’ll walk towards that park nearby.
JAKE
I’ll go into the woods.
15/10/2020
1. Se desfazer dos restos
16/09/2020
Procurar as palavras para descrever alguém. Procurar as palavras para lembrar de alguém. Procurar as palavras para explicar o que houve. Procurar as palavras para dar a notícia. Procurar as palavras para consolar o outro. Procurar as palavras para encontrar você. Procurar as palavras para me despedir.
Sua morte faz aniversário.
Extras
(continua)